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quarta-feira, 11 de novembro de 2009

FANÁTICO

“Sou Alvinegro da Vila Belmiro”

Você já foi chamado de... fanático?

Na hora, você uma risadinha (de confirmação ou negação), mas depois fica pensando... será que estou passando dos limites?
Faço essa indagação pois já aconteceu comigo, e não foi por causa das minhas fichas técnicas do Santos FC, pois isso não é fanatismo, é pesquisa... muito diferente (rsrsrsrs).

Vou relatar um fato ocorrido a mais de 30 anos e os amigos leitores poderão tirar suas próprias conclusões...
Em 1975/76, o Peixe estava numa fase de doer, onde jogava dava vexame. Ao mesmo tempo em que o time dava desgosto, a massa santista lotava o Pacaembu, Morumbi ou a Vila Belmiro. Pois bem, no campeonato brasileiro de 76, o Santos ressurgiu do nada e com Aílton Lira comandando o time, o Alvinegro surpreendia, fazendo belos jogos e alcançando uma seqüência de bons resultados.

Nessa mesma ocasião quebrei minha perna, uma fratura do fêmur num jogo de futebol de salão, quando o meu time usava a camisa do Corinthians - até hoje fico em dúvida o que foi pior: quebrar o fêmur ou usar a camisa do Corinthians...

A fratura imobilizou-me por um mês, fora o tempo que fiquei de muletas e bengala.
Imaginem, amigos, a agonia de um moleque de 15 anos, imobilizado dentro de um quarto. A distração eram livros, revistas, rádio, rock e o Peixe (que dava mais raiva que alegria).

Assim que obtive a ordem médica liberando-me para os movimentos, não parava mais... andava de muletas (sem colocar a perna direita no chão) pra todos os lados. Na verdade usar muletas naquelas condições significava algumas “vantagens” e outras desvantagens. A principal desvantagem é que aquilo atrapalhava, você anda devagar, ações simples como subir escadas, entrar num ônibus, tornam-se difíceis... a muleta cai no chão quando você a coloca de lado, enfim é algo bem problemático... por outro lado, aos 15 anos, andar de muletas, colocando uma pitada de bom humor outra de resignação, provocava a sensibilidade das meninas da escola e do bairro... o que era muito vantajoso em relação aos outros “caras”...

Num certo domingo, resolvemos ir até o Pacaembu. Eu, minhas muletas, meus dois irmãos e mais dois amigos. Cinco pessoas e duas muletas, dentro de um Fusca 68, branco multicolorido.
Não, o multicolorido não era uma inspiração hippie, é que cada pára-lama dianteiro era de uma cor, além do capô ser de uma quarta cor diferente. Na realidade era um meio de transporte um tanto precário, tanto que a bateria do Fusquinha era sustentada por uma tampa de caixa de maçãs.

Apesar de tudo, saímos de Santo André e chegamos ao Pacaembu. Paramos perto dos portões laterais das arquibancadas, na Rua Itápolis, e fui encarar a fila da bilheteria (enquanto estacionavam o meio de transporte).
E aí, não deu outra, era aproximar-se de muletas e o pessoal ia abrindo caminho - “deixa o moleque passar”- , e rapidamente cheguei até o guichê e comprei os ingressos para todos.
Fila para entrar? Sem problemas, a PM já fazia você “furar” a fila. Quando entrei no estádio, a tradicional revista. Um PM olhou para mim, olhou para o colega e disse: “Jogo do Santos só tem fanático... entra logo, moleque”

O jogo em si (contra o Atlético Paranaense), foi dramático, o Atlético fez 1x0 e segurava o resultado até os 80’, quando Edu (o craque) empatou... a massa santista ensandeceu nas arquibancadas e acreditando na virada, empurrou o time sobre os paranaenses. E o resultado foi o gol de Totonho (da “grande dupla”, Totonho e Toinzinho) aos 87’. Delírio no Pacaembu... e eu berrando e pulando feito um saci, numa perna só...

O resultado de tanta confusão é que perdi o dinheiro do pessoal (tinha ficado com o troco dos ingressos no bolso), e meus amigos tinham que pegar ônibus para voltar. O que fazer?
Meu irmão, com a tradicional boa vontade entre irmãos, já avisava, “não vou levar ninguém para casa, já fiz muito em vir até o jogo (ele é tricolor)”. Pensei comigo: “eu perdi, eu arrumo”. Fim de jogo, e lá vou eu pedir uma moeda para completar a passagem de ônibus... com a euforia da vitória, foi rapidinho levantar a grana que faltava... foi tão fácil e rápido, que sobrou até para o tradicional “dogão” com guaraná.
O que faz uma vitória dramática...

Ficha da partida:


10/10/1976

Santos FC 2x1 C Atlético Paranaense (Curitiba) (partida nº 3036)
Local: Pacaembu – São Paulo (SP)
Competição: Campeonato Brasileiro (2ª fase)
Renda: Cr$ 512.890,00
Público: 27.523
Árbitro: Rubens de Souza Carvalho
Gols: Edu e Totonho (SFC) – Nilton Batata (CAP)
SFC: Wilson Quiqueto; Fernando, Bianchi, Neto e Almeida; Carlos Roberto (Clodoaldo), Aílton Lira e Toinzinho (Totonho); Capitão, Tata e Edu.
Técnico: Zé Duarte
CAP: Altevir; Marinho, Gilberto, Alfredo e Ladinho; Gerson Andreotti e Rota; Nílton Batata, Taquinho, Bira Lopes (Evans) e Tadeu.
Técnico: Geraldo Damasceno

Nilton Batata comeu a bola nesse jogo, e ao final do ano era contratado pelo Santos. Foi o útimo gol de Edu pelo Santos FC, em partidas de competição.
Analisando, hoje, a escalação do Santos e os fatos ocorridos após o jogo, não resta dúvida... aquele PM estava certo: bando de fanáticos!

Guilherme Nascimento, 48 anos, santista fanático desde 1967, é professor da rede pública, escreve no blog do Marcão e em outros blogs e sites. Através do Blog do Marcão conheceu outros fanáticos (saudáveis) por futebol e por fichas técnicas. Hoje, tem orgulho de compartilhar o espaço que escreve com o Rodolfo, Ricardo, José Ricardo, Alexandre, Ibrahim, além do Toninho e do Marcão.

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