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segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Exclusivo! Dossiê da unificação dá margens para contestação

LNET! teve acesso ao documento que pode mudar o futebol brasileiro


Lancenet - Publicada em 19/12/2010 às 07:00

O dossiê entregue à CBF para a possível unificação dos títulos brasileiros a partir de 1959, ao qual o LANCENET! teve acesso com exclusividade, trata a imprensa como "a testemunha mais importante" para o reconhecimento da Taça Brasil e do Torneio Roberto Gomes Pedrosa como campeonatos nacionais.

O documento afirma que "a cobertura dos jornais deixava claro que a competição dava ao seu vencedor o título de campeão brasileiro". No entanto, uma pesquisa na Biblioteca Nacional do Rio revela que o tema dividiu opiniões (ver quadro).

A proposta do dossiê é de que os títulos da Taça Brasil (1959 a 1968) e do Robertão (1967 a 1970) sejam equiparados aos do Campeonato Brasileiro disputado a partir de 1971. O primeiro, de fato, surgiu como uma competição reconhecidamente nacional. Jornais da época exaltaram sua criação, que teve como objetivo indicar o representante do país na Copa Libertadores (veja abaixo reações da imprensa sobre as competições).

Sobre o primeiro campeão brasileiro

O GLOBO - 20/12/1971
Sobre o primeiro Brasileiro, em 1971
“O Atlético é o primeiro campeão nacional de clubes, título conquistado justa e merecidamente, ao derrotar por 1 a 0 o Botafogo no Maracanã.”

GAZETA ESPORTIVA - 30/3/1959
Sobre a primeira Taça Brasil, em 1959
“Foi a vez do E.C. Bahia vencer a Taça Brasil, o primeiro campeonato brasileiro de clubes.”

Opiniões ilustres

JORNAL DO BRASIL - 8/12/1966
Armando Nogueira, sobre a Taça Brasil de 1966
“O campo enlameado do Pacaembu consagrou, ontem à noite, o grande campeão do Brasil, o Cruzeiro de Tostão, Dirceu lopes, Natal e Raul.”

O GLOBO - 20/12/1971
João Saldanha, sobre o
Brasileiro de 1971
“(...) o primeiro Campeonato Brasileiro de Clubes joga também a primeira pá de cal nos campeonatos de secundária importância e que são disputados deficitariamente (...).”

Brasileiro ou Robertão?

JORNAL DO BRASIL - 11/12/1968
Sobre o Robertão de 1968
“O Santos conquistou o título de campeão do Torneio Roberto Gomes Pedrosa ao derrotar o Vasco por 2 a 1, ontem à noite (...)”

O DIA - 11/12/1968
Sobre o Robertão de 1968
“Não há dúvida alguma quanto à justiça da conquista do time praiano, que provou ser o melhor do Brasil através deste torneio de caráter nacional.”

Qual foi o primeiro?

O GLOBO - 28/5/1984
Sobre o Brasileiro de 1984
“E o time tricolor, assim, conquistou o título de campeão brasileiro, pela primeira vez em sua história (...)”

O GLOBO - 21/12/1970
Sobre o Robertão de 1970
“Fluminense, campeão do Brasil”

Brasileiro ou Taça Brasil?

FOLHA DE S. PAULO - 3/4/1963
Sobre a Taça Brasil de 1962
“Realizando uma de suas grandes exibições, o Santos conquistou ontem à noite, pela segunda vez, a Taça Brasil, obtendo consequentemente o título de bicampeão brasileiro de futebol.”

O GLOBO - 3/4/1963
Sobre a Taça Brasil de 1962
“(...) o Santos ganhou a partida e ficou, pela segunda vez consecutiva, com a Taça Brasil.”


João Havelange, então presidente da Confederação Brasileira de Desportos (CBD, atual CBF), anunciou na época em tom claro: a Taça Brasil apontaria o campeão do Brasil e indicaria o representante para o Campeonato Sul-Americano de Clubes (atual Libertadores). Em princípio, a imprensa seguiu o mesmo raciocínio, assim denominando o vencedor do torneio.

Em poucos anos, no entanto, parte dos veículos mudaram seus critérios e passaram a denominar os vencedores apenas como "campeões da Taça Brasil". No dia 4 de setembro de 69, o jornal "Estado de São Paulo" estampou: "Botafogo ganha a Taça". No texto, o clube carioca não é tratado como campeão brasileiro.

A divisão se agravou com a criação do Robertão, em 1967. O torneio, que por dois anos concorreu com a Taça Brasil, era entendido como ampliação do Rio-São Paulo. O "Jornal do Brasil", maior diário do país à época, nunca negou o valor da competição, tida como a mais importante do país. O "JB", porém, não o via como um Nacional.

"O Roberto Gomes Pedrosa continua sendo uma espécie de meio caminho para um futuro campeonato nacional de clubes, solução única para o futebol profissional no Brasil", afirmou o "Jornal do Brasil" na edição de 6 de setembro de 68.

Confira um bate bola exclusivo com Odir Cunha, autor do dossiê:

LANCENET!: Há muitas críticas em torno do possível reconhecimento da Taça Brasil como um título brasileiro. Como o senhor encara isso?
ODIR CUNHA: Não interessa o número de participantes e de jogos da competição, o que importa é a finalidade, que era apontar um campeão brasileiro. O formato utilizado era o possível para a época. Muitos clubes brasileiros são campeões mundiais com apenas um jogo, e não devem ser contestados como tal. A Taça Brasil foi a competição mais ética de todas, pois não houve uma única mudança ou virada de mesa. As pessoas podem alegar que a competição era precária, mas era precária em relação ao país de hoje. Não se pode renegar os primórdios.

LNET!: Outro tema controverso sobre a unificação é o fato de que haveria dois campeões brasileiros nas temporadas de 67 e 68. Não é estranho?
Essa é uma discussão que pode acontecer. Mas, se formos honestos, veremos que há muitos precedentes no Brasil. Há vários títulos estaduais divididos no Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo. O Flamengo ganhou dois Campeonatos Estaduais em 1979. Creio ser melhor
incluir do que excluir.

LNET!: O dossiê deixa margem para alguma contestação? A unificação dos títulos está garantida?
As provas apresentadas no documento são concretas. Não há como a CBF não unificar. Se partir do critério técnico, não há como.
Queria que todos encarassem isso pelo lado positivo. O passado dos grandes clubes brasileiros será mais estudado e valorizado.

Um comentário:

Alexandre M . B. Berwanger disse...

Eu concordo que o que importa e´a posição focial da CBD e não opiniões de jornais, que anunciam campões brasileiros desde a sécada de 1910, na disputa da Taça Ioduran.

Os boletins da CBD entre 1970 e 1973 apontavam os campões do TRGP como campeões nacionais, tendo modificado a redação em 1974, sem citar a Tça Brasil em nenhum momento.